O futuro de Portugal está em risco. Assistimos com tristeza e impotência à partida dos nossos entes queridos, sem que possamos alterar esse paradigma. Partida esta, impelida pelas circunstâncias de condições de vida indignas para um jovem que se queira emancipar dos seus pais, financeiramente, economicamente e psicologicamente. Qual não será o jovem adulto que não queira ter o seu espaço, a sua privacidade e voar com as suas próprias asas? Constituir a sua família, o seu templo interior e exterior. Viver com os pais impede esse crescimento, torna qualquer um dependente psicologicamente e financeiramente, uma vez que sob o teto dos pais, o filho é subordinado e é compelido a obedecer à hierarquia natural. Não possui autonomia plena das suas ações, visto que terá sempre alguém ao lado a aconselhar no bem e no mal, por vezes apara quedas que foram desenhadas para ser dadas, é a beleza e imperfeição da vida. A clarividência de um jovem que coabite com os seus progenitores não é a mesma que aquele que viva sozinho, tenha de enfrentar as suas adversidades sem que tenha a saia da mãe para se esconder.
Portugal é o país da UE em que mais tarde os jovens saem da casa dos pais, sendo aos 33,6 anos, à luz dos dados do Eurostat em 2021. O preço das habitações em Portugal disparou, uma especulação imobiliária que caso não travada de algum modo, continuará a adiar vidas, gerações, tal como, a exportá-las para o estrangeiro, onde poderá existir essa chance. Neste âmbito, o nosso país para conseguir mitigar essa especulação poderia ter a seu encargo a compra, venda e arrendamento de casas, uma bolsa de habitação acessível direcionada para os jovens, pelo menos 25 a 30% da habitação total em Portugal, concorrendo diretamente com os privados, sendo que a missão do Estado não seria o de arrecadar lucro, somente baixar o valor do imóvel, para o seu valor real (não especulado) e apoiar a fundo perdido total ou parcialmente o valor do imóvel, consoante a situação económica do requerente, através do IRS (por exemplo). Veja-se cidades como Viena, Amesterdão, Estolcomo e Bruxelas, que têm entre 25% e mais de 40% da habitação alocadas a programas sociais. Portugal não é ambicioso, não ultrapassa os 2%, assim o Status Quo permanecerá no tempo e no espaço. O acesso aos créditos de habitação são uma outra problemática que merece uma resposta pública. Como pode um jovem com os vencimentos baixos em Portugal ter a capacidade de armazenar e investir na sua habitação? Falamos de 10% do valor do imóvel, e os valores das habitações ultrapassam na sua maioria os cem mil euros. Mais de dez mil euros a pronto pagamento, quantos anos serão necessários para juntar tal montante? Assim sendo, propunha ao Estado pagar uma parte desse valor, garantindo o futuro das novas gerações. Alternativamente ao exposto, crie-se um fundo de habitação (seria utilizado para embolsar parte total ou parcial do investimento inicial para acesso ao crédito) pago por todos os contribuintes, por via de um valor simbólico a ser contribuído por todos, uma vez que os seus filhos serão os principais beneficiários desta medida.
O rendimento disponível por família não aumentou, tendo com a inflação atual perdido poder de compra, no entanto o valor das casas inflacionou de tal modo que o salário não consegui acompanhar. Os Golden Visa claramente contribuíram para essa subida estonteante, uma vez que esta medida visa atrair o investimento externo para Portugal, por via da troca de dinheiro por cidadania portuguesa, não estaremos a vender a nossa identidade nacional? Este mecanismo permite muitos benefícios para o investidor e para o nosso país na medida do capital aqui investido, todavia, provavelmente o estrangeiro nada quererá saber da população portuguesa e das suas condições de vida, o primordial e preferencial será maximizarem o seu lucro, esvaziando o mercado imobiliário.
Voltando à questão inicial, tudo o que fui enunciando contribui para que haja “fugas de cérebros”. Quem estará disposto a ter de viver com os pais até depois dos trinta, quando tem trabalho no exterior imediato, com uma folha salarial que lhes permite emancipar totalmente? Com qualificação e sem, as condições de vida são melhores, é um facto. Mas o que pudemos fazer para que mude esta situação? Devem ser construídas mais creches públicas gratuitas para fazer face à procura; Apoios à natalidade direta ou indiretamente, como a título de exemplo, reduzindo os impostos dos pais nos primeiros 5 anos de vida do nascituro ou subsidiando um valor semanal por filho (ex:50 euros), dinheiro este que serviria para a compra de fraldas, comida, despesas gerais com o bebé. Por outro lado, é necessário combater o flagelo do desemprego jovem que se encontra a rondar valores de 17%, uma elevada falta de emprego, fruto da carência da oferta de emprego. É necessário estimular a vinda e instalação de empresas exteriores em Portugal, bem como, deve ser reforçado o apoio às StartUps no nosso país, como política pública de desenvolvimento do nosso tecido empresarial jovem e maduro, que terá como consequência positiva a fixação dos nossos “cérebros”. Todas as juntas de freguesia do país devem possuir um gabinete de apoio ao empreendedor/empresário, uma cooperação autárquica mais próximo e célere com os seus fregueses, uma medida que na minha opinião, poderia potencializar talentos locais e estimular o crescimento de ideias que visariam desenvolver economicamente, financeiramente e socialmente as próprias freguesias incubadoras, pulverizando-se por todo o país este modus operandi.
Os baixos salários em Portugal são uma outra problemática impeditiva da emancipação jovem. Necessitamos de empregos bem remunerados, com perspectivas de futuro ao nível da sua progressão, contratos de trabalhos sem termo, não precarizados. Deve ser edificada uma medida que ponha termo aos estágios não remunerados, o Estado tem de ser a égide desta política de dignidade laboral e humana. Qual a motivação de acordar e receber zero e uma “palmadinha nas costas”? Qual a motivação de ser produtivo se no fim do mês terá de recorrer novamente aos seus pais, asfixiando a sua família em muitos casos. Se trabalham merecem ser pagos! Os tempos de escravatura terminaram! Por outro lado, nas entrevistas de emprego não pode haver desdém aos jovens (por receio que lhes retirem o trono), devem ser integrados na estrutura, uma cooperativa em torno de um objetivo comum, o bem-estar coletivo. O ser humano precisa de objetivos para alinhar o seu comportamento em sociedade, enquanto houver metas a cumprir e “bombons” no fim, a economia irá sorrir e a vida também.
Os jovens licenciados quando terminam a sua formação académica, devem puder optar de entre a imensa oferta de trabalho (atualmente inexistente) para a sua área profissional, isto é, um licenciado em engenharia certamente não quererá candidatar-se à restauração ou ao mergulho, não foi o caminho que elegeu em plena liberdade. E, quando essa liberdade de escolha é limitada pela falta de oferta, empurra-os para o exterior, pois a felicidade não é só o vencimento, é igualmente o sentimento de realização pessoal e profissional. A maioria dos jovens emigrantes não pensa voltar tão cedo, pelo menos enquanto as suas maiores adversidades não forem supridas por um Estado com pujança reformadora e de mudança. E, o fluxo de imigração não será o suficiente para colmatar todas as nossas “fugas de cérebros”, daí ter de ser arquitetada uma estratégia nacional para fixar e importar os nossos jovens.
A solução não pode passar pela substituição, mas sim na valorização, reconhecimento e apoio aos nossos quadros jovens!
João Pedro Leitão